Você mudou e não pára de reclamar da cidade, o que fazer?

Isso acontece com frequência, você muda por trabalho, estudo, amor, seja o que for, mas… a cidade não corresponde às suas expectativas, ou simplesmente muitas pequenas coisas te irritam, e você sente que ali não é o seu lugar! Bom, isso já aconteceu comigo inúmeras vezes, e aconteceu agora com Kuala Lumpur, onde estou há quase 4 meses. Me peguei nesse ciclo de reclamar e não gostar de nada, mas reclamar é chato! Pra quem ouve e pra quem reclama. Eu cansei de mim. Então resolvi me desafiar a fazer o que pra mim me parecia o mais difícil, escrever sobre o que gosto em Kuala Lumpur. Depois de uns dias ruminando, saiu esse texto e me surpreendi comigo e com a cidade.

globe-96Primeiro um pouco sobre a  Malásia. A Malásia fica no Sudeste Asiático, ao sul da Tailândia, do lado da Indonésia. São cerca de 30 milhões de habitantes e eles são de origens bem diversa.

  • 50.1% – Malaios
  • 22.6% – Chineses
  • 11.8% – Indígenas
  •  6.7% – Indianos
  •  8.8% – outros

Essa diversidade pode ser observada em tudo, na comida, nos templos religiosos, nas roupas, na variedade de temperos no mercado (imaginem a seção de temperos, com todos os temperos indianos e chineses!) 😋

Dificilmente esses grupos se misturam e, geralmente, falam a língua de origem deles quando estão entre si, apesar da língua oficial do país ser o malaio. Então, é como se houvesse micro países dentro de um só país. Você vai ver as chinesas com roupas curtíssimas e modernas, as indianas com roupas coloridas, olhos marcados, as muçulmanas com hijabis (lenços na cabeça), ou outras com burca (que não é tão comum quanto os hijabis por aqui).

Quanto à religião, a maioria é muçulmana (60%). O Islam é a religião do país, e isso tem influência nas leis e costumes em geral, mas há liberdade religiosa. Os chineses geralmente seguem o Budismo (20% da população do país) ou o Taoísmo ou outras religiões chinesas. A maior parte dos indianos segue o Hinduismo (6,3% da população). O cristianismo também está presente por aqui (9,2% da população). Então tem templos religiosos diversos (a maior part hindu e muçulmano, mas há também templos budistas e taoístas). Essa diversidade religiosa tem uma certa influência no cotidiano. Sempre há uma feriado ou festa religiosa, de uma religião ou outra. Aqui celebra-se deepavali (maior festa religiosa dos hindus), Ramadan (muçulmano) e outros feriados e comemorações budistas e taoístas (como o festival dos espíritos).

Comida 

Se tem comida, eu tô feliz! Minha maior felicidade é encontrar comida e lugares veganos!! E também adoro experimentar novos sabores.

Indianos – Em Kuala Lumpur é possível achar facilmente restaurantes indianos. Geralmente eles não são vegetarianos e servem frango e peixe. Mas sempre há naan e dal, que adoro. Naan é um tipo de pão, mais parece uma pizza, feito na hora. Eu sempre peço o de alho. Aí vem acompanhado com uns caldos. Um deles é o dal, tipo um curry de lentilha vermelha. Bão demais! E você também pode pedir outras coisas pra acompanhar. Ainda nos indianos, adoro o banana leaf (folha de banana) – arroz servido na folha de bananeira e acompanhado de vários vegetais. Uma refeição completa e barata.

Mamaks – Mamaks são restaurantes baratos, tipo o nosso self-service. Eles geralmente servem uma mistura de indiano a malaio. Estão por toda parte. O aqui do lado de casa tem um naan de alho maravilhoso, e ainda vem com um molho com menta, que adoro.

Feira noturna – Sabe a feira de sábado, pois é, aqui elas acontecem à noite todos os dias em um lugar diferente. Sempre tem uma perto da sua casa. Aqui embaixo do meu prédio tem uma todas as segundas. E uma a uns 15 minutos a pé aos sábados. Nessas feiras tem de tudo: roupas, coisas de casa, eletrônicos, tudo! E comida de feira, claro! Tem milho cozido, caldo de cana, bolos, pães, vegetais, petiscos, frutas, etc! Adoro! Sempre tô procurando novidades vegetarianas. Minha última descoberta foi um tofu recheado com vegetais e assado na hora, com dois molhos super delícia!!!

Também gosto de comprar bao, um tipo de esfirra feita no vapor. É um pão recheado, mas é cozido no vapor, não assado.  Tem recheado de tudo o que você pensar, meu preferido é o de gergelim preto!

Comida chinesa vegana – Os chineses são famosos por comerem muita carne, mas quando fazem comida vegana, é dos deuses! Geralmente os restaurantes veganos chineses são de budistas ou ligados ao budismo. Há alguns por aqui, e sempre arrasam nas versões veganas dos pratos. Alguns pratos até assustam pela semelhança com as carnes.

LEI CHA

Lei Cha – em um dos restaurantes Hakka em Kuala Lumpur.

Também há pratos veganos por natureza, como esse Lei Cha – um caldo feito com folhas de chá verde e outras ervas, que se come com arroz e uns vegetais e amendoim! Nossa! Diferente de tudo o que você já comeu da culinária chinesa. Super aromático, nada doce ou apimentado. Esse prato é da etnia Hakka.

shop-96Mercados – Ainda no quesito comida, adoro comprar coisas chinesas e asiáticas no mercado. Tem várias coisas que adoro comprar, como cereais chineses, cogumelos, temperos.

link-96.pngVoluntariado e ONGs – Na Malásia existem cerca de 7.000 ONGs (ou são 70.000?), claro muitas não ativas ou que não são exatamente ONGs, mas existe uma movimentação muito grande nesse setor. Há muita gente trabalhando e doando o seu tempo para resolver, ou pelo menos ter algum impacto, em questões que o governo não consegue solucionar, como a questão dos moradores de rua, por exemplo. Por causa do meu trabalho, em uma ONG que fornece serviços para ONGs, eu conheci muita gente fantástica nesse setor e estou aprendendo muito.

Também há uma cultura de voluntariado e caridade muito grande. Quase todo mundo faz alguma coisa pela comunidade, seja doar comida, visitar orfanatos, etc. Há até um “problema” em Kuala Lumpur, algumas vezes há muita gente oferecendo comida para os moradores de rua, na mesmo hora e local, o que acaba gerando desperdício de comida.

Nesse setor, já conheci pessoas inspiradoras, como:

  • a jovem que se dedica a salvar gibbons (ela cuida de 7 praticamente sozinha!);
  • os ativistas que enfrentam o governo, a polícia, atolamento, ponte quebrada, para levar alimentos para indígenas que estão resistindo ao desmatamento nas florestas;
  • o grupo que “resgata” comida que iria para o lixo, mas que ainda está boa para consumo para doar para quem precisa (eles salvam toneladas de comida!);
  • o cara que se dedica a ajudar crianças em situações diversas de dificuldade, seja vítimas de abuso sexual, que precisam de comida ou livros para estudar (ele praticamente só faz isso!);
  • a família que administra uma ONG com 4 casas, que abriga homens idosos ou com deficiências que vivem HIV ;
  • A mulher que administra uma creche para filhos de refugiados – ela busca as crianças, dá aula, dá comida, dá banho… tudo com uma equipe mínima.

Essa é uma pequena parte das pessoas que estou tento a oportunidade de conhecer por aqui.

GIBBON encounter

Pense num momento emocionante e lindo! Essa linda apertando minha mão!

landscape-96Trilhas – Mesmo dentro do Kuala Lumpur, há morros onde é possível fazer trilhas bem bacanas – até tive minha experiência com sanguessugas em uma delas! Se você conseguir enfrentar o calor e a umidade, vá! As trilhas geralmente são dentro de mata mais fechada, então é mais fresquinho.

Browser IconLocalização – Kuala Lumpur é cidade grande com todos os seus problemas, mas em uma hora de avião você está em Langkawi, por exemplo, uma ilha na divisa com a Tailândia e com aquele clima mais relax de ilha. É também possível ir para outras ilhas (são muitas) e curtir algo diferente em um fim de semana. Também está perto da Indonésia, Tailândia…

langkawi

Pôr do sol sem filtro e sem palavras em Langkawi.

Compras – Os shoppings em KL são insanos. Enormes. Tem um shopping só para eletrônicos (Low Yat) e tem de tudo lá, de câmeras a cabos, telefones e acessórios. Uma perdição. Os shoppings normais são imensos, com várias das grandes marcas europeias e americanas, e também as grandes marcas asiáticas. Algumas marcas asiáticas que adoro:

  • Innisfree – Essa é uma marca de cosméticos coreana, orgânica e natural. Eu conheço há alguns anos mas no Brasil só podia comprar pela Amazon. Eles vendem shampoos, produtos pra pele, esmaltes. Eles têm uma máscara de argila fantástica.
  • Uniqlo – Essa é uma marca de roupas japonesa, a loja é tipo H&M, mas as roupas têm um design mais moderno ou clássico, roupas que você pode usar pra sempre. E a qualidade é excelente. Não é tão barato, mas quando há promoções fica bem bom de comprar.

No fim das contas, parece que há bastante coisas que gosto em Kuala Lumpur. Coisas que muitas vezes eu nem lembrava, quando me pegava pensando no que não gosto. Foi um ótimo desafio escrever esse post, me fez lembrar de vários momentos felizes aqui e pensar nas oportunidades que tenho por aqui e que ainda terei. Recomendo o exercício, se você estiver passando por situação semelhante, afinal, problemas sempre há e sempre haverá, em qualquer lugar. Quando moramos em outro país a adaptação pode ser difícil e mesmo costumes e aspectos da cidade podem nos irritar, mas isso não deve ofuscar as oportunidades que podemos ter nesse local. Daqui um ano posso estar em outro continente, não sei se voltarei, então é aqui e agora! Isso não quer dizer que você tenha que ficar onde não curte, mas pode pelo menos fazer sua estadia mais agradável. Eu decidi aproveitar meu tempo em Kuala Lumpur apreciando as coisas que só encontro aqui e descobrindo coisas além das que eu não curto. Boa sorte pra nós!

2 thoughts on “Você mudou e não pára de reclamar da cidade, o que fazer?

  1. Oi, vc está a 45 minutos de onibus de Singapura, é fantastica, vale a pena conheçer. Ainda ñ conheço a Malasia, mas irei assim que poder. No Brasil tb temos muitas Ogs e lugares que ajudam pessoas e animais. Mas infelizmente a maioria dos brasileiros ñ se interessam, apenas quando vão p fora. Poderíamos ter um país fantastico, se tds colaborassem de alguma forma. Um abraço da Suíça, tudo de bom. Renata

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    • Sim, conheço Singapura e adorei! Até tem um post sobre a cidade. Quanto às ONGs, sim no Brasil temos muitas, mas não é a mesma movimentação que vejo aqui, como você disse. Acho que no Brasil a gente espera mais do governo e instituições. A minha teoria é que aqui na Asia tem a ver com as religiões predomimantes, que veem na caridade e em doar e ajudar (pessoalmente) uma forma de limpar karma, e aí essa cultura está mais enraizada e tida como o normal. Está sendo bem legal aprender com as organizacões e pessoas que trabalham com elas, que é uma oportunidade que essa trabalho em KL está me proporcionando. Enfim, tô fazendo as pazes com KL e percebi que a cidade tem me proporcionado várias oportunidades fantásticas. Um abraço, e se vier por aqui e eu ainda estiver na área, dá um toque!

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