Às vezes dá errado, pra dar certo… Um pouco de como eu vim parar aqui

Sabe aquela fase merda? Demitida de um emprego, cheia de contas pra pagar, tédio, uma dívida daquele famoso financiamento da Caixa… daquele jeito. Chorava dia sim e noite também, não sabia o que fazer da vida. Qual a solução? Viajar claro. Não, gente, eu não tinha dinheiro, queria fazer outro carnê, a louca!

Primeira decisão, Tomorrowland (famoso festival de música eletrônica na Bélgica). Deu merda, claro! Levei um cano do cara que me vendeu o ingresso.

Ok. Vamos tentar de novo.

Achei um Seminário de Macrobiótica na Holanda. Então, vamos lá pegar mais um financiamento, fazer mais um carnê, quando chegar vendo o carro e resolvo isso.
Lá vou eu pra Holanda, que nunca nem tive vontade de conhecer, mas empolgada com o seminário. O local era na parte rural de uma vila, cerca de uma hora de Amsterdam. Ou seja, roça. O seminário foi maravilhoso, além de aula de culinária, tinha aula de massagem, yoga… Mas como eu estava entediada, vamos de Tinder nas horas vagas.

O Tinder tava bombando nessa época por lá. Vários matches e algumas conversas interessantes. Teve um cara com quem falava sempre e a conversa fluía bem. Tentamos nos encontrar numa cidade vizinha. Peguei ônibus e trem, mas não deu certo. Acabei encontrando com outro (se é pra piriguetar, vamos piriguetar sem medo). Acabou minha semana no seminário e já tinha planejado ir para Bruges, na Bélgica – umas 4 horas de trem de lá.

Bruges foi excelente. Aluguei uma bicicleta e pedalei por tudo quanto é lugar, me perdi fora da cidade, achei castelos, praia e gente que nem inglês falava pra ajudar a perdida aqui. Continuei falando com o crush (e mais alguns) e no meu último dia lá ele disse que iria me encontrar em Bruges (em 3 horas de carro estaria lá!) Uau! E agora? O cara tá animado! E se ele for feio? E se for chato? Bom, vamos nessa, não tô fazendo nada mesmo. E se for uma merda nem preciso ver essa criatura de novo.

Três horas depois, pontualmente, lá estava ele na porta do meu hotel. E… vou te contar, era muito melhor do que as fotos! Lindo, educado, um fofo! O encontro foi perfeito, nada daqueles silêncios constrangedores, tudo lindo numa cidade super romântica. Claro, ele ficou! Nos despedimos de manhã, eu sem saber se um dia o encontraria de novo e ele dizendo que adoraria que isso acontecesse. Vou confessar, essa noite com um desconhecido lindo e cavalheiro realmente deu levantada na minha auto estima. Esqueci a tristeza, a falta de rumo, as dívidas, tudo. São os hormônios, eu sei… Acabamos nos encontrando mais duas vezes, em duas cidades diferentes, antes de eu voltar para o Brasil com o coração partido.

Assim que cheguei ao Brasil já comecei a procurar mestrados na Holanda. Já estava querendo mesmo fazer algo diferente na minha vida e essa minha aventura acabou sendo um incentivo. Agora pelo menos eu tinha um lugar em mente. Nós não estávamos planejando morar junto nem nada, mas continuávamos nos falando vez ou outra. Nem falei pra ele que estava procurando mestrados lá. E eu me perguntava: Vou me mudar para a Holanda por causa do crush? E a minha resposta era sempre que ele era apenas uma desculpa, uma cereja no bolo, para eu largar minha vida monótona e, de quebra, dar uma chance para esse amor lindo florescer.

Passam se os meses e aparece um erro da KLM que acabou vendendo passagens para Amsterdam por 700 reais. 700 REAIS minha gente! Um sinal né? Comprei sem pensar duas vezes. Avisei pro crush que iria tal dia, ele disse que estaria por lá. O tempo passou e chegou o grande dia. Quando pisei em Amsterdam, mandei mensagem… nada. Mandei outra, nada… Até hoje tô esperando uma resposta do crush lindo! Isso mesmo, SUMIU! E toda aquela conexão que a gente tinha, aquela magia? Pois é… Fiquei chocada, confesso. Foi totalmente inesperado, mas segui minha viagem pela Holanda e Bélgica de novo e visitei uma das universidades onde estava me inscrevendo para o mestrado. Voltei para o Brasil e a pergunta agora era: ir para Holanda apesar do crush? Sim! Claro. Não ia só por causa dele e não é por causa dele também que vou deixar de ir. Vendi apartamento (a minha parte, porque o resto era do banco ainda), carro, prato e até calcinha.

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Graduação. Master in International Communication Management, The Hague University of Applied Sciences. Haia, Holanda.

Fui. Fiz um mestrado em Haia, gostei, desgostei, fiquei, cansei. Emprego tava difícil por lá e mais uma vez estava com aquela sensação de derrota e frustração. Decidi que não queria ficar lá me sentindo miserável e mendigando afeto e emprego. Me joguei numa viagem sem prazos e sem muitos planos para a Ásia. Fui professora de inglês em Hanoi.

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Despedida dos meus alunos em Hanói, Vietnam.

Encontrei um mosteiro nas montanhas no sul do Vietnã, conheci o budismo e a meditação. Aprendi a me observar mais, me aceitar. Entendi melhor conceitos como o ‘desapego: notar, conhecer e desapegar’. Continuo estudando, meditando.

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Almoçando com colegas do mosteiro depois de uma cerimônia para receber monges depois de um retiro. Da Lat, Vietnã.

Um dia em uma praia no Camboja, contemplando o pôr do sol, me senti feliz como nunca, mesmo não tendo muito mais do que uma mochila, mesmo estando sozinha, foi uma sensação difícil de explicar, mas senti que estava onde deveria estar, comigo. E que se várias coisas não aconteceram como eu quis, que bom, porque assim eu pude estar ali naquele momento.

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Pôr do sol em Otres, Camboja.

E tudo começou quando tudo dava mais errado e quando um crush parecia ser a minha salvação, de certa forma acabou sendo sim, não do jeito que imaginei, mas do jeito que tinha que ser. E não me arrependo. O encontro com esse cara me fez sentir bem e penso que ajudou a me despertar do estado de torpor em que me encontrava. Foi a partir dali que vi que não precisava cultivar a tristeza e solidão, que havia mais para ser vivido. Se para ele não teve importância, não faz diferença. O que importa mesmo é aquele foi o começo de uma transformação que está em curso até hoje.

Muitas vezes a gente não entende e parece que tudo dá errado, mas eu sinto que essas portas fechando são um empurrão para que a gente deixe de teimar com o que não é pra gente e se force a procurar o caminho certo. É assim que me sinto hoje, depois de tantos nãos, de tanta decepção e muita frustração e sensação de derrota. Hoje me sinto feliz por tudo isso, porque se tudo aconteceu para que eu estivesse vivendo o que estou vivendo agora, valeu a pena e foi o que eu precisava!

Hoje estou na Tailândia, dando aulas de inglês em um resort, e continuo viajando e aceitando “nãos” e “sims” por aí, vivendo mais o presente, planejando um pouco, rasgando planos e arriscando.

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Feliz no Templo Wat Pha Lat. Chiang Mai – Tailândia 

4 thoughts on “Às vezes dá errado, pra dar certo… Um pouco de como eu vim parar aqui

  1. Nossa… Adorei o desapego em meter a mochila nas costas e sair pro mundo… Sucesso… E planeja sim o futuro… Vivi bem pensando somente no presente mas agora aos quarenta a falta de planejamento cobra seu preço mas ainda tem tempo… Estou mudando isso e a perspectiva é boa…

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    • Sim, estou começando a pensar um pouco. Mas sinceramente ainda não quero planejar muito, mesmo porque nos últimos meses minhas vida e perspectivas estão mudando tanto, que quero me manter aberta para as oportunidades. Mas entendo o que quer dizer, e penso um pouco no futuro sim. Boa sorte para nós!

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  2. Cheguei ao seu blog por acaso, e só consigo pensar: que boniteza de relato! Tão bom se permitir, não é? Estou passando por uma fase assim… Obrigada por compartilhar conosco a sua história!

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    • Obrigada querida, acho que é difícil falar sobre o que não deu certo, né?! Vejo tanta gente passando por momentos difíceis e vendo todo mundo lindo nas redes sociais fica mais difícil. Muitas vezes já me senti derrotada, mas falar disso era meio que admitir o fracasso. E hoje acho que não é fracasso, é da vida. Acho que momentos ruins todos temos e temos que tentar aprender com eles né. Afinal, tudo passa o bom e o ruim. Tudo de bom na sua trajetória.

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